Os vestires

 Ao fim de tantas décadas, a gente ainda se lembra? Isto não é um exercício de saudosismo bacoco. É só um divertimento.

Para abrir o apetite, este vídeo dos Nouvelle Vague, um grupo bem giro que por acaso passou há um ou dois meses por Portalegre ( sei porque fui vê-los com o João Ruivo e o Tó Luís) utiliza aqui um excerto do filme de Godard, Bande à Part, de 1964. Revejam-se nestas vestimentas:
 

Ela veste a kilt. Haveria porventura alguma moça que não tivesse então uma kilt? Os tecidos vinham da Nazaré. Porque o pronto-a-vestir era coisa de Paris. Por aqui tinha-se a Maria Adónis e a Maria de Matos. E algumas outras modistas de menor fama, digo eu que não conheci nehuma. Mais do que com as kilts, as modistas tinham trabalho reforçado na altura do baile de finalistas. Uma boa modista e uma Burda, e era sucesso garantido no baile. 

Vejam-se as sabrinas. Meninas adolescentes de saltos altos? Nem vê-las. Finalmente as meias opacas, uma boa alternativa às meias pelos joelhos e às soquetes. 
No Liceu, vestissem Maria Adónis ou Maria de Matos, à entrada era o igualitarismo das batas brancas obrigatórias.

Quanto aos rapazes, a coisa era mais simples. Qualquer trapinho servia. Obrigatório mesmo era a gravata. A mesma e sebosa gravata que durava uma boa meia dúzia de anos. Lembram-se do Sabino que um dia quis ser diferente e, em vez da gravata se apresentou de colarinho aberto por onde despontava um lenço composto em forma de laço? Oh escândalo! Logo apareceu o Reitor que o recambiou pra casa, que ali não era o Cais do Sodré.
Observem-se este jovens (a bem dizer com aspecto de jovens retardados). Camisola aos losangos. Uma peça clássica! Por baixo o nó fino da gravata. O outro, um casaco de virados largos e assertoado, bem justinho ao corpo. Outro clássico! As calças justas, claro. Por aqui, quisemos imitar esta moda das calças justas e deu para o abuso. Tão justas, tão justinhas, que muitas vezes era uma trabalheira dos diabos, tirá-las. Vá lá que, apesar dos abusos, que se saiba ninguém estragou o abono de família.
Nas gerações anteriores as modas duravam anos. Nos nossos anos finais de 60, o mundo já começava a mudar muito mais rapidamente. E também isso se via na moda. Imediatamente a seguir às calças justas vêm as calças à boca de sino e, lembram-se do Hélder Sabino?, as calças à pata de elefante. E havia o casaco à Beatle (do Sgt. Pepper) do Camilo. Mas ele era músico, podia ir assim vestido para o Liceu. E, escandaloso!, até lhe era permitido andar de cabelo comprido. Pelo menos foi o que lamentou o Kepler, depois de se queixar do desplante junto do Reitor. Para roupinhas um pouco melhores (para o fato do baile, por exemplo) havia também dois ou três alfaiates de renome. Agora apenas lembro o Meruje (para a nata da terra), o Matos Pereira, o Sr. Rodrigues e o Peres, mas outros haveria com certeza.

Os vestires - Finalistas do Liceu de C. Branco 69 Os vestires - Finalistas do Liceu de C. Branco 69